Coloque a prova sua fé na Astrologia e no Tarot

Podemos rezar por uma vítima do cólera ou podemos lhe dar quinhentos miligramas de tetraciclina cada doze horas.

Publicado em 22 de Agosto de 2017

 

Se você não acredita em signos, esoterismos, tarô e assuntos do gênero, esse texto não é para você. Esse texto é para aqueles que acreditam em todas essas coisas, para que possamos fazer uma reflexão realista sobre o meio.

O trecho abaixo, é de autoria de Carl Seagan, extraído do livro “O Mundo Assombrado por demônios:

Os tratamentos científicos são centenas ou milhares de vezes mais eficazes que os alternativos. (E inclusive quando parece que as alternativas funcionam, não sabemos se realmente tiveram algum papel: Podem produzir-se remissões espontâneas, inclusive do cólera e a esquizofrenia, sem oração e sem psicanálise). Abandonar a ciência significa abandonar muito mais que o ar condicionado, o aparelho do CD, os secadores do cabelo e os carros rápidos.

Se quisermos que o mundo escape das temíveis consequências do crescimento da população global e dos dez mil ou doze bilhões de pessoas no planeta a finais do século XXI, devemos inventar métodos seguros e mais eficientes de cultivar mantimentos, com o conseguinte abastecimento de sementes, irrigação, fertilizantes, pesticidas, sistemas de transporte e refrigeração. Também se necessitarão métodos contraceptivos amplamente disponíveis e aceitáveis, passos significativos para a igualdade política das mulheres e melhoras nas condições de vida dos mais pobres. Como pode conseguir-se tudo isso sem ciência e tecnologia?

Os avanços na medicina e agricultura salvaram muitas mais vidas que as que se perderam em todas as guerras da história. A espada da ciência tem dois gumes, seu temível poder impõe a todos, incluídos os políticos, mas certamente especialmente aos cientistas, uma nova responsabilidade: mais atenção às consequências a longo prazo da tecnologia, uma perspectiva que ultrapasse as fronteiras dos países e gerações e um incentivo para evitar as chamadas fáceis ao nacionalismo e o chauvinismo. O custo dos enganos começa a ser muito alto. Interessa-nos a verdade? Tem alguma importância? … onde a ignorância é uma benção é uma loucura ser sábio, escreveu o poeta Thomas Gray. Mas é assim? Edmund Way Trade, em seu livro de 1950 Círculo das estações, expôs melhor o dilema: Moralmente é tão mau não querer saber se algo é verdade ou não, sempre que permitir sentir-se bem, como o é não querer saber como ganha o dinheiro sempre que se consiga.

Por exemplo, é desanimador descobrir a corrupção e a incompetência do governo, mas é melhor não saber nada disso? A que interesses servem à ignorância? Se os humanos tiverem, por exemplo, uma propensão hereditária ao ódio aos forasteiros, não é o autoconhecimento o único antídoto? Se ansiarmos acreditar que as estrelas saem e ficam para nós, que somos a razão pela que há um universo, é negativo o serviço que nos empresta a ciência para rebaixar nossas expectativas?

Simplesmente, não há volta atrás. Nós gostemos ou não, estamos atados à ciência. O melhor seria lhe tirar o máximo proveito. Quando finalmente o aceitarmos e reconheçamos plenamente sua beleza e poder, encontrar-nos-emos com que, tanto em assuntos espirituais, como práticos, saímos ganhando.

Mas a superstição e a pseudociência não deixam de interpor-se no caminho: proporcionar respostas fáceis, evitar o escrutínio cético, apelar a nossos temores e desvalorizar a experiência, nos convertendo em praticantes rotineiros e cômodos além de vítimas da credulidade. Sim o mundo seria mais interessante se houvesse óvnis à espreita nas águas profundas das Bermudas tragando-se navios e aviões, ou se os mortos pudessem fazer-se com o controle de nossas mãos e nos escrever mensagens. Seria fascinante que os adolescentes fossem capazes de fazer saltar o auricular do telefone de sua forquilha só com o pensamento, ou que nossos sonhos sonhos pudessem predizer acertadamente o futuro com maior assiduidade que a que pode explicar-se pela casualidade e nosso conhecimento do mundo. Todo isso são exemplos de pseudociência. Pretendem utilizar métodos e descobrimentos da ciência, enquanto que em realidade são desleais a sua natureza, frequentemente por que se apoiam em provas insuficientes ou porque ignoram chaves que apontam em outra direção. Estão infestados de credulidade. Com a cooperação desinformada (e frequentemente a conivência cínica) de periódicos, revistas, editores, rádio, televisão, produtores de cinema e similares, essas ideias se encontram facilmente em todas as partes.

Muito mais difíceis de encontrar, são os descobrimentos alternativos mais desafiantes e inclusive mais assombrosos da ciência. Naturalmente, a gente prova distintos sistemas de crenças para ver se lhe servem. E, se estivermos muito desesperados, todos chegamos a estar mais dispostos a abandonar o que podemos perceber como uma pesada carga de ceticismo. A pseudociência enche necessidades emocionais capitalistas que a ciência está acostumada deixar insatisfeita.

Proporciona fantasias sobre poderes pessoas que nos faltam e desejamos (como os que se atribuem aos super-heróis dos gibis hoje em dia, e anteriormente aos deuses). Em algumas de suas manifestações oferece uma satisfação da fome espiritual, a cura das enfermidades, a promessa de que a morte não é o fim. Confirma-nos nossa centralidade e importância cósmica. Assegura que estamos conectados, vinculados, ao universo. Ás vezes é uma espécie de lar a meio caminho entre a antiga religião e a nova ciência, do que ambas desconfiam. No coração de alguma pseudociência (e também de alguma religião antiga ou da “Nova Era”) encontra-se a ideia de que o desejo o converte quase tudo em realidade. Que satisfatório seria, como nos contos infantis e lendas folclóricas, satisfazer o desejo de nosso coração só desejando-o. Que sedutora é a esta ideia, especialmente se comparada com o trabalho e a sorte que se está acostumado a necessitar para encher nossas esperanças.

O peixe encantado ou o gênio do abajur nos concederão três desejos: o que queiramos, exceto mais desejos. Quem não pensou — só no caso de, só se por acaso nos encontrarmos ou roçamos acidentalmente uma velha lâmpada — o que pediria?

Liev Trotski o descreveu referindo-se a Alemanha em vésperas da tira do poder por parte do Hitler (mas a descrição poderia haver-se aplicado igualmente à União Soviética de 1933); Não só nas casas dos camponeses, mas também nos arranha-céu da cidade, junto ao século XX, convive o XIII. Cem milhões de pessoas usam a eletricidade e acreditam ainda nos poderes mágicos dos signos e exorcismos… As estrelas de cinema vão a médiuns. Os aviadores que pilotam milagrosos mecanismos criados pelo gênio do homem levam amuletos na jaqueta. Que inesgotável reserva de escuridão, ignorância e selvageria possuem!

Há uma espécie de astrólogo-adivinho-médium disposto a aconselhar os altos executivos de grandes corporações, analistas financeiros, advogados e banqueiros sobre qualquer tema. “Se a gente soubesse quantas pessoas, especialmente entre os mais ricos e poderosos, vão aos psíquicos, ficaria com a boca aberta para sempre”, diz um psicólogo de Cleveland, Ohio. Tradicionalmente, a realeza foi vulnerável às fraudes psíquicas. Na antiga China e em Roma a astrologia era propriedade exclusiva do imperador; qualquer uso privado desta poderosa arte se considerava uma ofensa capital.

A pseudociência é distinta da ciência errônea. A ciência avança com os enganos e vai eliminando um a um, chega-se continuamente a conclusões falsas, mas se formulam hipoteticamente, expõem-se hipótese de modo que possam refutar-se, confronta-se uma sucessão de hipóteses alternativas mediante experimento e observação; A ciência anda a provas e titubeando para uma maior compreensão. Certamente, quando se descarta uma hipótese científica se vem afetados os sentimentos de propriedade, mas se reconhece que este tipo de refutação é o elemento central da empresa científica.

A pseudociência é justo o contrário. As hipótese revistam formular-se precisamente de modo que sejam invulneráveis a qualquer experimento que ofereça uma possibilidade de refutação, por isso em principio não podem ser invalidades. Os praticantes se mostram precavidos e à defensiva, opõem-se ao escrutínio cético. Quando a hipótese coalhar entre os cientistas se alegam conspirações para suprimi-la;

Raramente tropeçamos ou caímos, exceto de pequenos ou na velhice. Aprendemos tarefas como montar em bicicleta, patinar, saltar à curva ou conduzir um carro e conservamos este domínio para toda a vida. Embora estejamos uma década sem praticá-lo, não nos custa nenhum esforço recuperá-lo. Entretanto, isso nos dá um falso sentido de confiança em nossos outros talentos. Nossas percepções são falíveis. Às vezes vemos o que não existe. Somos vítimas de ilusões ópticas. Em ocasiões alucinamos. Tendemos a cometer enganos.

Preparamos uma civilização global em que os elementos mais cruciais — o transporte, as comunicações e todas as demais indústrias. a agricultura, a medicina, a educação, o ócio, o amparo do meio ambiente, e inclusive a instituição democrática chave das eleições — dependem profundamente da ciência e da tecnologia;

Uma vela na escuridão é o título de um livro valente, do Thomas Ady, publicado em Londres em 1656, que ataca a caça de bruxas. Qualquer enfermidade ou tormenta, algo fora do ordinário, atribuía-se popularmente à bruxaria. Durante grande parte de nossa história tínhamos tanto medo do mundo exterior, com seus perigos imprevisíveis, que nos abraçávamos com alegria a algo que prometesse mitigar ou explicar o terror.

O perigo de que “as nações pereçam por falta de conhecimento”. A causa da miséria humana evitável não está acostumado a ser tanto a estupidez como a ignorância, particularmente a ignorância de nós mesmos.

A chama da vela pisca. Treme sua pequena fonte de luz. Aumenta a escuridão. Os demônios começam a agitar-se;

Se você não foi preguiçoso e leu o texto até aqui, você já conseguiu sair do grupo da maioria das pessoas que nem se da ao trabalho de ler um texto até o final, principalmente no meio esotérico, onde as pessoas olham para o básico da informação, não buscam a história ou as origens de suas crenças.

Esse texto não é para te desmotivar, e sim para te incentivar a pesquisar, entender, experimentar todos os meios com que trabalha o seu lado espiritual, de maneira profunda e consciente.

Nunca entregue para um terceiro, ou para o “transito da lua”, ou para a “carta do dia”, a responsabilidade das suas decisões. Não confie naquele Youtuber astrológico, ou naquela conta do Instagram sobre signos, sem checar o por que de cada informação. Não queira misturar suas ideologias com o trabalho da ciência terrena, por que cada uma delas tem suas próprias áreas de ação.

O Tarô é uma das minhas ferramentas favoritas para a minha evolução, mas como me disseram uma vez, ele é só um escravo nas nossas vidas, o único que pode determinar o que podemos ou não fazer, nossas limitações e habilidades, é a nossa determinação. Mas como Carl Seagan escreveu, que nós falhemos por nossa estupidez, e não pela nossa ignorância. Que o fruto de nosso trabalho seja consequência de nosso esforço e dedicação, e não da sorte ou do momento astrológico. Que nossas paixões sejam conquistadas com entusiasmo e sofrimento, e não pela compatibilidade astral. Que quando olhemos para trás, vejamos todas as infinitas tomadas de decisões que NÓS, Senhores de nossos destinos decidimos tomar, e que ainda que usemos esses ricos e valiosos símbolos que eu amo tanto, como a astrologia e o tarô, seja unicamente como uma ferramenta de conhecimento e reflexão, e não algo que usemos para transferir nossas culpas e medos.

Gostou do texto? Gostaria muito de saber sua opinião ou feedback.

Se você tiver qualquer dúvida pode me enviar um e-mail para diogenesjunior.ti@gmail.com.


astrologia Brasil Carl Sagan Reflexão Tarô

Fontes e Referências

O trecho abaixo, é de autoria de Carl Seagan, extraído do livro “O Mundo Assombrado por demônios.

 

Sígilo Diogenes Junior

Tem alguma dúvida, ou apenas enviar um feedback? Me envie um e-mail para contato@diogenesjunior.com.br