Críticas ao Cristianismo

Não pretendo, porém, cometer o erro de atribuir à religião algo que em primeiro lugar é devido à incompetência humana.

Publicado em 16 de Março de 2017

 

 

As opiniões negativas e injustificadas são levianas e às vezes também perniciosas, não passando de um disfarce da ignorância, ou melhor, sendo uma tentativa de esquivar-se à responsabilidade e ao confronto incondicional.

Antes de falar da religião, devo explicar o que entendo por este termo. Religião é — como diz o vocábulo latino religere — uma acurada e conscienciosa observação daquilo que Rudolf Otto acertadamente chamou de “numinoso”, isto é, uma existência ou um efeito dinâmico não causados por um ato arbitrário. Pelo contrário, o efeito se apodera e domina o sujeito humano, mais sua vítima do que seu criador. Qualquer que seja a sua causa, o numinoso constitui uma condição do sujeito, e é independente de sua vontade. De qualquer modo, tal como o consensus gentium, a doutrina religiosa mostra-nos invariavelmente e em toda a parte que esta condição deve estar ligada a uma causa externa ao indivíduo. O numinoso pode ser a propriedade de um objeto visível, ou o influxo de uma presença invisível, que produzem uma modificação especial na consciência. Tal é, pelo menos, a regra universal.

A exigência da “imitatio Christi”, isto é, a exigência de seguir seu modelo, tornando-nos semelhantes a ele, deveria conduzir o homem interior ao seu pleno desenvolvimento e exaltação.

Mas o fiel, de mentalidade superficial e formalística, transforma esse modelo num objeto externo de culto; a veneração desse objeto o impede de atingir as profundezas da alma, a fim de transformá-la naquela totalidade que corresponde ao modelo.

Dessa forma, o mediador divido permanece do lado de fora, como uma imagem, enquanto o homem continua fragmentário, intocado em sua natureza mais profunda. Pois bem, Cristo pode ser imitado até o ponto extremo da estigmatização, sem que seu imitador chegue nem de longe ao modelo e seu significado.

Não se trata de uma simples imitação, que não transforma o homem, representando assim um mero artifício. Pelo contrário, trata-se de realizar o modelo segundo os meios próprios de cada um — Deo concedente — na esfera da vida individual.

Cristo, enquanto modelo, carregou os pecados do mundo. Ora, quando o modelo permanece totalmente exterior, o mesmo de dá com os pecados do indivíduo, o qual se torna mais fragmentário do que nunca; o equívoco superficial em que incorre lhe abre o caminho fácil de jogar literalmente sobre Cristo seus pecados, a fim de escapar a uma responsabilidade mais profunda, e isto contradiz o espírito do cristianismo.

Os milagres só empolgam o entendimento dos que não podem perceber-lhes o sentido. São meros substitutos da realidade não compreendida do espirito. Isso não quer dizer que a presença viva do espirito não é ocasionalmente acompanhada de maravilhosos acontecimentos físicos. Desejo enfatizar apenas que tais acontecimentos nem podem substituir o espirito nem podem provocar-lhe a compreensão, que é a única coisa essencial.

A alma parece assim tão insignificante a ponto de ser considerada incapaz do mal e muito menos do bem. Entretanto, se a alma não desempenha papel algum, a vida religiosa se congela em pura exterioridade e formalismo.

Como quer que imaginemos a relação entre Deus e a alma, uma coisa é certa: é impossível considerar a alma como “nada mais do que”. Pelo contrário, ela possui a dignidade de um ser que tem o dom da relação consciente com a divindade.

A afirmação dogmática da imortalidade da alma a eleva acima da mortalidade do homem corporal, fazendo-a partícipe de uma qualidade sobrenatural. Deste modo, ela ultrapassa muito em significado ao homem moral consciente, e portanto seria vedado ao cristão considerar a alma como um nada mais do que”.

 

Pode acontecer que um cristão, mesmo acreditando em todas as imagens sagradas, permaneça indiferente e imutável no mais íntimo de sua alma, porque seu Deus se encontra completamente “fora” e não é vivenciado em sua alma. Seus motivos e interesses decisivos e determinantes bem como seus impulsos não provêm da esfera do cristianismo, mas de uma alma inconsciente e indiferente que é, como sempre, pagã e arcaica. Não só a vida individual, mas a soma das vidas individuais que constituem um povo, provam a verdade dessa afirmação.

 

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