O Simbolismo dos Animais no Tarô e no Ocultismo.

Mais uma vez, os bichos se alegram por ajudar os homens, ainda que, infelizmente, nem sempre estes saibam compreendê-los.

Publicado em 27 de Fevereiro de 2017

 

A Crítica dos animais — Temo que os animais considerem o homem como um semelhante que se privou da razão animal sadia, como um animal no delírio, que ri e que chora, como um animal infeliz. (Friedrich Nietzsche).

 

Por que os Animais?

Como referência para esse texto, vamos usar a Alquimia e o Tarô como base de conhecimento para essa pesquisa, por entender que essa seja a mais antiga referência e por que não dizer, catalogação, de um bestiário simbólico.

 

O Coelho

Representa o conhecimento vulgar e profano. Ele é rápido, saltitante e esperto. Sua companhia, os contos de fadas não desmentem, é inconveniente, dado o seu comportamento desorganizado e imaturo. O coelho é o não-iniciado, aquele que fala de si contando vantagens, e que mente bastante por ser oportunista; de cartola na cabeça, chega a apresentar-se como mago ou alquimista, mas, por ser superficial, não passa do embusteiro que dificilmente sabe mesmo do que é que está falando. Visto nas gravuras alquímicas quase sempre entrando em buracos ou cavernas, ele serve, entretanto, para nos indicar a passagem para o ambiente inacessível, para os mundos escondidos. Por ser um animal fraco, seu sacrifício simboliza a morte do caráter infantil em prol do amadurecimento futuro.

 

Na carta do Louco no Tarô Alquímico, ao invés do Cão, o inconsciente do personagem é representado por um coelho, uma tentativa de ilustrar o comportamento do Louco nesse ponto da jornada.

 

No clássico infantil “Alice no Pais das maravilhas”, o estopim para Alice viver as aventuras que viveu, foi quando ela se deparou com um coelho branco que estava correndo “atrasado para um compromisso”.

 

Ás de Ouro do Tarô Alquímico, também com a representação de um coelho, indicando a força inicial do naipe do plano material.

 

Salamandras e Lagartos

 

Na carta do Rei de Paus no baralho de Rider Waite, poucos percebem mas temos no canto inferior da carta um lagarto, uma referência ao elemento fogo do naipe. E no próprio trono do Rei, temos a ilustração de um lagarto mordendo a própria calda, uma referência a Uroborus:

 

Em algumas ilustrações ela pode aparecer como um dragão ou serpente, mas a intenção é ser ou parece o lagarto, ou um ser que rasteja. O significado da Uruboros é o ser que depende apenas de si mesmo para evoluir, por isso a ideia de “se auto alimentar”:

 

Sapos e Rãs

Animais crepusculares, terrestres e aquáticos, assumem aqui a contraparte da experiência ígnea, e simbolizam a dissolução. Por preferirem os recantos úmidos e sombrios, e por passarem por metamorfoses em sua vida anfíbia, sapos e rãs, ligados ao elemento água, psicologicamente revestem-se dos valores guardados no interior do alquimista, que lhe servem de complemento anímico, isto porque está no mundo das sombras a real possibilidade de integração entre o ego e as forças latentes do inconsciente. Sapos e rãs, por isso mesmo, relacionam-se ainda à matéria informe, ora queimada e diluída, que requer moldagem e lapidação.

 

Peixes

Os peixes, que submersos vivem, também simbolizam o psiquismo profundo que oculta valores a serem despertados. A indiferenciação entre cabeça e corpo desses animais faz deles um símbolo integrador entre os extremos, capaz de inspirar e fazer vir à tona as potencialidades guardadas nas regiões abissais da alma.

 

Carta de Rei de Copas, do Tarô Alquímico, mostrando a Baleia o “rei dos animais aquáticos”.

 

Na carta da Valete de copas, a personagem conversa com o peixe, uma representação de “ouvir uma mensagem do subconsciente”, e o peixe é o mensageiro trazendo as boas novas.

 

Lobo

O lobo é um animal terrestre e noturno. Por enxergar bem à noite, encarna o protótipo do herói guerreiro que adentra nas cavernas para delas sair mais tarde, revigorado e forte. Parece representar os apetites sensuais (a faculdade da sensação) — apetites puramente carnais, concupiscência. Lobo faz sangrar a consciência e engole os corações.

 

Na carta da Lua, dois lobos guardam o caminho na noite escura. Algumas interpretações colocam como um lobo domesticado e um lobo selvagem.

 

Na carta do 7 de Paus do Tarô Alquímico, dois lobos brigam, por que não dizer, os mesmos presentes na carta da Lua que mostramos anteriormente

 

No 9 de paus do Tarô Alquímico, temos o lobo sendo queimado no fogo, processo semelhante a chave da Amalgamação da alquimia, onde quando o Rei, se une a sua Rainha (o casamento), o lobo das paixões carnais é queimado para que o melhor seja tirado do homem:

 

Representação da Amalgamação em uma ilustração Alquímica.

 

Pégasos

 

Leão

 

Na imagem acima, o Leão comendo o Sol, uma representação do Leão comendo o Ego

 

O Leão na carta do Rei de Ouro, no baralho do Tarô Alquímico, uma representação do Rei do plano material

 

Carta do Arcano 21 Prudência, do Tarô dos Sete Mistérios, mostra um leão adormecido, provavelmente por que esse é o Arcano Maior mais evoluído desse baralho, com o ego sob controle, não é necessário que o Leão interfira em devorar o Ego da personagem.

 

Na carta do cavaleiro de Espadas, o escudo do cavaleiro, representa um escudo de um leão vivo, como se fosse uma defesa natural ao Ego.

 

E claro, uma das cartas mais tradicionais com Leão como símbolo, é a carta da Força, onde a personagem tenta dominar a fera. Nesse caso o leão é o primo-irmão do lobo e precisa ser controlado para não satisfazer todas as suas vontades do instinto natural.

 

Pelicano / Fênix

O pelicano, ave cuja lenda conta que se fere e se mutila com seu bico para alimentar com o próprio sangue seus filhotes, expressa a ideia de auto sacrifício como etapa necessária para se atingir a perfeição (que, a bem da verdade, nunca se alcança). Neste particular, assemelha-se à fênix, pássaro mítico que se deixa consumir no fogo para depois renascer das próprias cinzas. A presença de ambos os pássaros bem indica que a morte anunciada aqui, da qual devem ser separados os elementos que serão transformados e reunidos, é uma experiência transcendente. Tanto o pelicano quanto a fênix são emblemas que, através da morte, anunciam a ressurreição, sugerindo a imortalidade da alma em seu eterno caminho de doloroso aprendizado.

 

O Pelicano que se auto sacrifica para alimentar as suas crias. Mesmo que indiretamente, me lembra muito a carta do Enforcado, pelo fato do personagem se auto sacrificar por algum motivo ou alguém.

 

A Fênix renascendo das chamas

 

Águia

A águia, rainha das aves, de natureza solar, coroa os estados anímicos superiores, é símbolo da ascese, da percepção direta e arguta que nos faz perceber a divindade em nossas almas; muitas vezes é vista como um pássaro bicéfalo a representar a união dos opostos complementares

 

Imperador do Tarô Alquímico, mostra a Águia no ombro do nosso personagem. É comum a representação da Águia junto ao homem como um indicativo do Espirito Santo junto a ele, ou junto a atividade que ele emprega

 

 

O Mesmo acontece com as cartas da Imperatriz e do Imperador no tradicional baralho do Tarô de Marselha, onde temos no escudo de ambos o símbolo da águia, indicativo da presença do espirito santo no império deles. Vale notar que as águias estão em direções opostas, como se uma olhasse para outra, uma tentativa de mostrar que a força deles é maior quando estão juntos.

 

Dragão

Mitologicamente, são monstros-répteis alados capazes de soltar fogo (calcinar) pelas ventas, que invariavelmente guardam tesouros ocultos e segredos filosofais, como por exemplo, a fonte do rio Estige no alto das montanhas, cujas águas, se bebidas na nascente, conferem a imortalidade. Representam ainda as bestiais aberrações que trazemos latentes e que devem ser dominadas em nosso mundo interior. Por vezes, manuscritos alquímicos nos mostram um duelo entre dois dragões, um alado e outro áptero, a designar a luta entre os princípios fixo e volátil.

 

Dragões na carta da Roda da fortuna, no baralho Alquímico

 

No mesmo baralho, na carta do Diabo, o personagem andrógeno está preso a um dragão vermelho.

 

Curiosamente no 8 de Espadas desse mesmo baralho, parece o mesmo dragão (ou uma fera semelhante) presa ao chão, e o seu semblante parece mostrar que a besta está acuada, com medo ou algo parecido.

 

Corvo Negro / Cisne Branco

Envolvem lavagens, filtragens, decocções, queimas, reações etc., até que se atinja o albedo, quando a alma se esclarece na aurora da iluminação psíquica, processo este representado pela brancura do cisne

 

Na carta do Eremita temos um corvo no ombro do nosso personagem, indicando que o processo de reflexão do eremita talvez seja um processo de limpeza individual. É comum o uso do corvo para ilustrar esse processo de limpeza, na Bíblia Elias foi alimentado por Corvos, para cristãos pode parece que eram Corvos no literal, mas eu gosto de acreditar que talvez tenham sido pessoas que estavam se purificando que foram enviadas até o profeta para lhe proverem alimento.

 

No filme infantil Malévola da Disney, durante o momento mais obscuro e vingativo da personagem principal, ela tem como companheiro um corvo, indicando que ela deveria passar por um processo de purificação, extirpando todos os sentimentos de maldade e vingança que estavam dentro dela.

 

No livro e filme O Jardim Secreto, o personagem Dickon, quando percebe ou se comporta como se estivesse apaixonado pela personagem principal Mary, ele aparece com um corvo nos ombros. Esse personagem inclusive é retratado como “amigo dos animais”. O corvo aqui provavelmente indica que mesmo o personagem apaixonado pela Mary, ele deveria se livrar desses sentimentos, por que o amor de Mary seria para Colin Craven.

 

Na Carta da Morte do Tarô Alquímico, também temos o Corvo no ombro do personagem principal. A mensagem aqui, é que na morte, é feita a transformação para algo melhor e mais puro da matéria, do espirito e da Alma.

 

 

Uma representação diferente, o Corvo entra nas chamas, e sai transformado como Fênix (um resultado diferente do Cisne Branco, mas com o mesmo significado da purificação);

 

Serpente e a Serpente Verde

 

A cobra verde do Tarô Etheila, indicando proteção, provavelmente de algo vindo do ar (pensamentos), algo como proteger algo do plano físico, de sabotagens do plano mental.

 

No Tarô da Espiral Mágica, temos novamente a cobra verde, dessa vez enrolada na espada do Ás de Espadas, dessa vez uma união entre o ar e a terra unidos em um objetivo comum.

 

Na carta do Enforcado no tarô alquímico, temos uma cobra cinza, por ela não ser verde, é uma carta que indica a ganância, a prepotência e a mesquinharia. Nessa carta, parece que o personagem “se sacrificou por alguém”, quando no intimo dele, na verdade, ele fez isso com outras intensões motivadas pela ganância.

 

No Arcano número 12, do Tarô de Eteila temos a circunspecção, qualidade de quem observa com cuidado todos os âmbitos de uma questão, de uma situação, de um fato, e no caso, é a própria serpente, onde é importante observá-la bem, para não ser mordido por ela.

 

Nessa carta do Tarô da Espiral Mágica, o 8 de Copas, temos uma personagem cega (ou alguém que não quer enxergar) fugindo de duas serpentes que brigam, uma branca e uma verde, talvez a serpente negativa contra a serpente positiva. Uma delas quer destruir e consumir, e a outra quer construir pontes para união.

 

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Obrigado Ingrid Pereira pela revisão do texto.


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