TecnoMagia: um aprofundamento no tema

Além de “pedra e fogo”, computadores e meios digitais também podem ser usados como instrumentos mágicos

Publicado em 27 de Maio de 2021

 

Introdução

Alguns meses atrás publiquei um texto sobre “tecnomagia”, mostrando que além de “pedra e fogo”, os computadores e meios digitais também podem ser usados como instrumentos mágicos com a mesma eficiência de qualquer outra ferramenta natural:

“Avance um pouco na história para a revolução agrícola, onde você tem o controle do que nasce da terra, não precisa mais buscar pelas florestas. Ao seu redor haverá ervas, chás, instrumentos de colheita, vassouras e caldeirões. É isso que o magista dessa época tinha em mãos. Nasce a feitiçaria. Mais alguns séculos e o mundo está rodeado de capas, espadas, taças e itens religiosos. É natural que ele use este itens para explorar sua via oculta, nasce a Alta Magia. Corra para a renascença com seus laboratórios, ateliês e o início das experimentações empíricas. Nasce a Alquimia”. 

Agora olhe para você, o que você tem na sua frente? O que está em sua mão? O que você tem no bolso? Um Computador? Um Tablet? Um Smartphone? Porque continuar usando só paus e pedras quando você tem acesso a um universo virtual praticamente infinito e inexplorado? Os tempos mudaram, e a magia mudou também.

Por mais que eu goste do trecho acima, ele serve apenas como uma explicação simplista sobre o tema, assim como explicar para uma criança o que é o sexo, a explicação ali é básica, e para compreendermos melhor o assunto precisamos pesquisar a fundo o que o “digital” é ou como podemos fazer essa associação entre o digital e a Magia.

Nem sempre o digital esteve entre nós, apesar de parecer algo tão fundamental nos nossos dias é um conceito abstrato que a menos de 20 anos era desconhecido para a maioria das pessoas. Se destrincharmos o digital teremos alguns conceitos que são mais filosóficos ou sociológicos do que “reais” por assim dizer, no sentido de palpável: O ciberespaço.

 

O Ciberespaço

Ciberespaço: termo criado por Pierre Levi onde o mesmo cita a inteligência coletiva como principal ativo: “A inteligência coletiva é um termo que diz respeito a um princípio no qual as inteligências individuais são somadas e compartilhadas por toda a sociedade, sendo potencializadas a partir do surgimento de novas tecnologias de comunicação como a Internet, por exemplo”. Para Pierre Levi, ela possibilita o compartilhamento da memória, da imaginação e da percepção, o que resulta na aprendizagem coletiva, troca de conhecimentos. As informações são cruzadas e então selecionadas por cada pessoa numa espécie de ecossistema de ideias. Se retirarmos toda a mística que está a volta do tarô, podemos considerá-lo como um dos mais antigos “ciberespaço” para uma inteligência coletiva, já que o tarô reúne a priori memórias, sabedorias e aspectos históricos da sociedade de uma época ou da própria humanidade. Usar o termo “ciber” para o tarô pode parecer estranho para alguns, já que existe um conceito para a maioria das pessoas de que o “ciber” seria algo apenas “informático” (computadores), quando na verdade o ciber seria uma abreviação de “cibernético”, termo criado nas “Macy Conferences” entre os anos 1946 e 1953 que veremos mais a seguir.

Pierre Levi também criou termos como “Tecnologias da Inteligência” onde aborda a ideia “de um coletivo pensante homens-coisas”. “Árvores de Conhecimentos” onde aborda programas de informática criado para que os membros de uma determinada comunidade possam revelar suas qualificações e habilidades e mostrá-las à sociedade. A “Cibercultura” que aborda desde a digitalização até a navegação, passando pela memória, pela programação, pelo software, pela realidade virtual, pela multimídia, pela interatividade, pelo correio eletrônico. O conceito de “virtual” ou o conceito de virtualidade, mostrando que “virtual” não é antônimo de “real” e nem sinônimo de “imaginário”. Repare que todos esses conceitos na essência do que querem significar não são totalmente estranhos a uma pessoa estudante de magia, já que vimos coisas parecidas quando olhamos para “astral”, “dimensões de realidade”, “mente criativa”, “projeção”, “memória cármica”. Não vamos entrar aqui no “como” essas coisas acontecem (a metafísica da coisa), vamos focar apenas nas definições dos significados.

A tecnomagia começa a fazer mais sentido, ou melhor, começa a ganhar uma forma que muito se aproxima a mais antigas técnicas mágicas da humanidade como se nunca tivesse existido um abismo entre tecnologia e o xamanismo.

 

Macy Conferences

Vamos falar sobre a cibernética, que diferente do que muitos pensam não é um termo exclusivamente digital ou eletrônico.

Com o nome de The Macy Conferences, aconteceu, entre os anos 1946 e 1953, uma série de dez conferências interdisciplinares que levou à fundação do que hoje conhecemos como cibernética.

Sob os auspícios da Josiah Macy Foundation, uma organização filantrópica dedicada a problemas do sistema nervoso, foi promovido o encontro de importantes cientistas da época em um vasto leque de áreas para discutir causalidade circular e feedback em sistemas biológicos e sociais – Circular Causal and Feedback Mechanisms in Biological and Social Systems. A presença de diversas áreas de especialização em um mesmo grupo de estudos resultou em uma certa dificuldade inicial de comunicação entre os participantes. Mas progressivamente deu lugar a uma linguagem comum, suficientemente forte para permitir o entendimento em todos os seus meandros.

Os cientistas que participaram de todas as conferências, ou da maioria delas, são considerados como o núcleo do grupo, que inclui:

  • Arturo Rosenblueth (fisiologista)
  • Gregory Bateson (antropólogo)
  • Heinz von Foerster (biofísico)
  • John von Neumann (matemático)
  • Julian Bigelow (engenheiro eletrônico)
  • Kurt Lewin (psicólogo)
  • Lawrence Kubie (psiquiatra)
  • Lawrence K. Frank (sociólogo)
  • Leonard Jimmie Savage (matemático)
  • Margaret Mead (antropóloga)
  • Molly Harrower (psicólogo)
  • Norbert Wiener (matemático)
  • Paul Lazarsfeld (sociólogo)
  • Ralph Waldo Gerard (neurofisiologista)
  • Walter Pitts (matemático)
  • Warren McCulloch (psiquiatra)
  • William Ross Ashby (psiquiatra)

 

Nessas conferências o termo “cibernética” foi tido como central como objeto de pesquisa:

Segundo Norbert Wiener (1948) “a cibernética é o estudo interdisciplinar da estrutura dos sistemas reguladores, suas estruturas, restrições e possibilidades. O estudo científico do controle e da comunicação no animal e na máquina”. Em outras palavras, é o estudo científico de como humanos, animais e máquinas controlam e se comunicam. A cibernética é aplicável quando um sistema em análise incorpora um circuito fechado de sinalização – originalmente chamado de relação “causal circular” – isto é, onde a ação do sistema gera alguma mudança em seu ambiente e essa mudança é refletida no sistema de alguma maneira (feedback) que aciona uma alteração no sistema. A cibernética é relevante para, por exemplo, sistemas mecânicos, físicos, biológicos, cognitivos e sociais. O objetivo essencial do amplo campo da cibernética é entender e definir as funções e processos de sistemas que possuem objetivos e que participam de cadeias causais circulares que passam da ação para a detecção, para comparação com a meta desejada e novamente para a ação.

O termo foi (não atoa) quase que associado unicamente a sistemas informáticos eletrônicos, por que a lógica básica de um sistema cibernético é um sistema que se retroalimenta independente da ação direta de um agente externo, um sistema que se auto alimenta para continuar funcionando, assim como a Internet, se expande sem precisar de uma ação direta especifica para isso, já que até mesmo as pessoas online não são um agente externo, e sim uma parte interna desse sistema conectado e interligado.

 

A palavra “cibernética” apesar da aplicação citada acima, é um pouco mais antiga: O termo “cibernética” vem do grego Κυβερνήτης. A palavra cybernétique também foi utilizada em 1834 pelo físico André-Marie Ampère (1775-1836) para se referir às ciências de governo num sistema de classificação dos conhecimentos humanos. Historicamente, os primeiros mecanismos a utilizar regulação automática (ainda que não se usasse a palavra cibernética na altura) foram desenvolvidos para medir o tempo, tal como as clepsidras. Nestes, a água fluía de uma fonte, como um tanque num depósito e desde o depósito aos mecanismos do relógio. Ctesíbio usou um dispositivo flutuador em forma de cone para controlar o nível da água represada e ajustar a velocidade do fluxo da água para manter um nível constante de água represada, de modo a não transbordar nem a ficar em seco. Esta foi a primeira hipótese verdadeiramente automática de um dispositivo normativo que não requer a intervenção externa entre a retroalimentação e o controlo do mecanismo. Ainda que não se estivessem a referir a este conceito com o nome de cibernética (era considerado um campo na engenharia), Ctesíbio e outros como Heron de Alexandria e Su Song são considerados alguns dos primeiros a estudar os princípios cibernéticos.

O estudo da cibernética no seu sentido atual começa com a teleologia (do grego telos, que significa “meta” ou “propósito”) em máquinas com processos de retroalimentação corretiva de fins de 1700 quando aparece o motor a vapor de James Watt. Este motor estava equipado com um limitador de velocidade, uma bomba centrífuga para o controle da velocidade do motor.

Com tudo isso posto, podemos simplificar o termo como a cibernética estuda os fluxos de informação que rodeiam um sistema, afim de retroalimenta-lo.

Novamente temos uma semelhança ou até mesmo uma correspondência imediata com conceitos mágicos, já que não é a mesma coisa que propõe ideias como sigilos e egregoras no campo na Magia?

“A possibilidade de um sistema controlar a si mesmo até automatizar o processo que realiza pode ser considerada a principal vantagem proporcionada pelos princípios da cibernética”

A internet é de certa forma automatizada, o que acontece no ambiente digital acontece naturalmente, apesar de algoritmos e técnicas de marketing que de certa forma permite prever resultados nas ações empregadas nela, o ecossistema em si conectado, funciona independente e o crescimento ou evolução da “rede” conectada acontece naturalmente através do que ocorre nesse interior, mesmo que tentativas de governos ou indústrias de controlá-la, essas ações tem mais um aspecto de uma característica, uma parte desse sistema, do que um agente real de transformação e funcionamento do mesmo.

De modo geral, os procedimentos mecânicos (não eletrônicos) carecem das características adequadas para reagir com rapidez e precisão, bem como de maneira controlada e previsível. Entretanto, um ramo da cibernética conhecido como pneumática exerce funções dessa natureza mediante diferenças de pressão em fluidos, aplicáveis em refinarias, instalações petroquímicas, indústria de refrigeração etc. Mas os propósitos desse texto, vamos focar apenas no aspecto digital da cibernética.

“É absurdo imaginar que um instrumento que aumenta os poderes da linguagem em geral pudesse favorecer somente a verdade, o bem e o belo. É preciso sempre perguntar: verdadeiro para quem? Belo para quem? Bem para quem? O verdadeiro vem do diálogo aberto aos diversos pontos de vista. Direi até mais do que isso: se tentássemos transformar a internet numa máquina de produzir somente a verdade, o belo e o bem, só chegaríamos a um projeto totalitário, de resto, sempre fadado ao fracasso.” (Pierre Levy)

 

Você já parou para pensar sobre para que serve a Internet?

A pergunta acima não quer saber sobre para que serve para você, já que para cada indivíduo será uma resposta diferente, alguns estudam, outros trabalham, trocam mensagens, criam memes etc. Mas uma resposta geral para todos, para que serve a internet?

A internet serve para que nós humanos possamos transmitir as técnicas dos mais variados assuntos (relacionamentos, trabalhos, sobrevivência, comunicação, etc.) através de mensagens de texto ou visuais. Quando eu digo “mensagens” não estou querendo dizer WhatsApp, e sim representações de texto (sites, e-mails) ou imagens (vídeos, memes) para representar uma mensagem, transmissão de um pensamento ou cultura. É “um conjunto do jogo coletivo, aquele na qual desenham-se as conexões do mundo com o universo”.

“Nosso propósito consiste antes de mais nada em designar as tecnologias intelectuais como um terreno político fundamental, como lugar e questão de conflitos, de interpretação divergentes. Pois é ao redor dos equipamentos coletivos da percepção, do pensamento e da comunicação que se organiza em grande parte a vida da cidade no cotidiano e que se agenciam as subjetividades dos grupos.”

Com isso posto, faria mais sentido que ao invés de propormos algo como “tecnomagia”, usássemos apenas “magia”, já que o meio digital não é apenas uma mera “área” de um determinado assunto da nossa realidade: nossos tempos impõe o digital como parte fundamental intrínseca da nossa realidade, onde querendo ou não, nossas relações sociais serão criadas e mantidas.

Afinal, sabemos que quando dizemos Magia, não estamos dizendo em soltar fogo pelas mãos, e sim, a maneira como lidamos e manipulamos a nossa própria realidade através da linguagem, e o meio cibernético é hoje, na internet, o principal e muitas vezes o único canal onde todos os humanos irão interagir através da linguagem, logo, a nossa magia deverá estar lá.

“As mudanças estão ocorrendo em toda parte, ao redor de nós, mas também em nosso interior, em nossa forma de representar o mundo. É urgente que nos equipemos com ferramentas para poder pensar estas mudanças, avaliá-las, discuti-las – em suma, particular ativamente da construção de nosso destinos.”

Temas relacionados a magia como sigilos, rituais de poder, magia negra, invocações e evocações estão super populares, mas geralmente, assuntos procurados por pessoas interessadas apenas no poder e na superstição, nada diferente do que um católico que acredita que existe mais valor no ritual da hóstia do que no símbolo do sacrifício de Cristo. Isso acontece é claro em várias áreas, desde a astrologia até medicina: uma vez acompanhando o trabalho da Lua Valentia ela publicou um vídeo falando sobre os rituais dela usando velas de led, os comentários estavam cheios de críticas “onde já se viu usar velas de led”, agora o poder das velas está no fogo e na parafina? Ou está na intenção e no símbolo da atenção que damos a isso?

“Quando, por exemplo, conversamos sobre o tempo com um comerciante de nosso bairro, não aprendemos absolutamente nada de novo sobre a chuva ou o sol, mas confirmamos um ao outro que mantemos boas relações, e que ao mesmo tempo nossa intimidade não ultrapassou um certo grau, já que falamos de assuntos anódinos, etc.”

“…longe de ser apenas um auxiliar útil à compreensão das mensagens, o contexto é o próprio alvo dos atos de comunicação. Em uma partida de xadrez, cada novo lance ilumina com uma luz nova o passado da partida e reorganiza seus futuros possíveis; da mesma forma, em uma situação de comunicação, cada nova mensagem recoloca em jogo o contexto e seu sentido. A situação sobre o tabuleiro de xadrez em determinado momento certamente permite compreender um lance, mas a abordagem complementar segundo a qual a sucessão dos lances constrói pouco a pouco a partida talvez traduza ainda melhor o espirito do jogo”.

O jogo da comunicação consiste em, através de mensagens, precisar, ajustar, transformar o contexto compartilhado pelos parceiros. Ao dizer que o sentido de uma mensagem é uma “função” do contexto, não se define nada, já que o contexto, longe de ser um dado estável, é algo que está em jogo, um objeto perpetuamente reconstruído e negociado. Palavras, frases, letras, sinais ou caretas interpretam, cada um à sua maneira, a rede das mensagens anteriores e tentam influir sobre o significado das mensagens futuras,”

Logo, é fácil para nós envolvidos com a Magia, entendermos que o espaço digital é um campo amplo, vasto e possível para nossas atitudes mágicas por que através dele podemos traduzir, escrever e influenciar contextos tanto quanto ao redor de uma fogueira no meio da floresta, talvez inclusive com mais potência de influenciar outras pessoas, já que nossas frases, imagens e músicas poderão alcançar um número inimaginável de pessoas, muitas dessas, que se quer perceberem que estão sendo influenciada por nós.

 

Os Canais para TecnoMagia

Com tudo o que vimos até aqui, quais seriam os canais válidos para o uso e prática da tecnoMagia? Por exemplo, muitas pessoas criticam ou até mesmo duvidam de consultas de Tarô através do WhatsApp. Mas muitas dessas críticas não vem acompanhadas de argumentos contra a ferramenta, e sim com uma suposta valorização do atendimento presencial.

Eu até posso concordar que o “olho no olho” tem lá mais “poder”, porém quantas vezes nessas feiras místicas por ai, mesas coladas umas nas outras com cartazes de “consultas esotéricas” com barulho no ambiente altíssimo, onde mal conseguem se ouvir claramente o que as pessoas estão falando. Independente da técnica (online ou presencial) o fundamental não é apenas a circunstância, mas a técnica do artista e a atenção do espectador (contexto).

Podemos distinguir, por exemplo, entre um domínio empírico (aquilo que é percebido, que constitui a experiência) e um domínio transcendental (aquilo através de que a experiência é possível, que estrutura a percepção). Em sua Crítica da razão pura, Kant atribuiu está função de estruturação do mundo percebido a um sujeito transcendental a histórico e invariável. Hoje, ainda que características cognitivas universais sejam reconhecidas para toda a espécie humana, geralmente pensa-se que as formas de conhecer, de pensar, de sentir são grandemente condicionadas pela época, cultura e circunstâncias. O cúmulo da cegueira é atingido quando as antigas técnicas são declaradas culturais e impregnadas de valores, enquanto que as novas são denunciadas como bárbaras e contrárias à vida.

Logo, não vejo problema algum em um atendimento de tarô via WhatsApp ou qualquer outro aplicativo de mensagens, desde que a mensagem seja corretamente compreendida e recebida pelo espectador. Agora, algo que creio ser inválido, são esses sites ou aplicativos que “tiram” cartas de tarô de forma aleatória, como os Personare e AstroLink da vida.

Por que creio ser inválido esse tipo de tiragem de tarô?

Imaginem que você tenha em suas mãos um deck de tarô com todas as suas 78 cartas devidamente embaralhadas. A cada vez que você embaralha e tenta tirar um certo número de cartas, sempre serão cartas diferentes realmente um resultado possível totalmente aleatório, já que as combinações possíveis é praticamente impossível que seja ordenado de uma forma que se repita. Isso se dá por que os movimentos das mãos no processo de embaralhamento nunca irá conseguir repetir sempre os mesmos passos e proporções para que os resultados se repetiam, isso sem contar o ambiente, o número de vezes em que o processo foi feito, a forma e o local em que alguém cortou o baralho etc. É literalmente o caos agindo onde pode ser qualquer resultado quase que em uma sequência infinita.

A ideia de ter esse processo digitalmente em um site ou em um aplicativo parece perfeito não? Três cartas viradas para baixo e o “computador” irá selecionar aleatoriamente os resultados. Porém, em sistemas de computação não existe uma função ou um meio de se obter um número realmente aleatório, pois para qualquer resultado, o computador terá que ter um algoritmo pré-definido com a sequência de números possíveis a serem obtidos.

Vamos dar um exemplo, peguemos novamente aquele cenário de ter um deck de tarô nas mãos, mas ao invés de 78 cartas, teremos apenas 5 cartas. Por mais que as embaralhemos, os resultados possíveis tendem a serem os mesmos, afinal são apenas cinco cartas. O mesmo acontece quando tentamos gerar um número aleatório via computador, por mais que as combinações possíveis sejam bem maiores do que apenas cinco, a sequência lógica para a geração desse número aleatório é muito bem controlada (lembra que falamos a alguns exemplos anteriores sobre a forma e posição das mãos e outras variáveis na hora de embaralhar um deck real).

 

Analisando a geração de números aleatórios via computação:

Quando analisamos números aleatórios gerados via computação, precisamos distinguir o conceito de aleatoriedade da probabilidade e considerarmos o objeto, ou seja, considerarmos o processo que gerou a aleatoriedade. Isso porque é mais importante sabermos como chegamos ao número do que o número em si. Chamamos essa abordagem de “complexidade de Kolmogorov“: nessa teoria da complexidade de Kolmogorov, não importa o número supostamente aleatório obtido, e sim que houve um algoritmo muito bem controlado que o gerou, logo ele não é totalmente aleatório.

Mesmo se quisermos comparar com a aleatoriedade que podemos atingir ao embaralhar um deck nas nossas mãos, em um dos casos teremos infinitas variáveis que irão influenciar a obtenção do número, e no segundo caso um número definido de variáveis para a geração de um determinado resultado, logo, não tão aleatório assim.

É claro que, se você acredita na veracidade ou precisão desses sistemas digitais de tiragem de cartas eu não quero aqui afirmar o que é certo ou errado, até por que matematicamente não é possível medir o quão aleatório um número é, mas estou apenas apresentando fatos e a ciência por trás de um processo, para que você compreenda como algo realmente acontece.

Resumindo esse tópico, uma tiragem de tarô deve ter um resultado imprevisível, para que a partir dai, possamos refletir e analisar o resultado, mas dentro de um sistema computacional, o resultado pode ser não tão previsível assim por causa das próprias limitações do sistema em gerar um número realmente aleatório.

Não vou considerar aqui nenhuma abordagem com a utilização de computação quântica, já que seria enganação afirmar que qualquer um desses sites que fazem tiradas automáticas de tarô tenha acesso a um sistema computacional tão avançado e raro, que apenas empresas como Google e IBM tenham acesso. Inclusive preciso dizer que os inúmeros sites e aplicativos que afirmar ter acesso a sequenciamento quântico de números não passam de fraude e enganação, ou no mínimo desonestidade.

Agora, não podemos ignorar a crença de que quando embaralhamos “algo” maior do que nós irá fazer com que as cartas que devem sair irão sair, não importa a maneira e a forma como embaralhamos, e como o computador nada mais é do que impulsos elétricos dentro da matéria, esse mesmo “algo” também pode atuar sobre isso, porém como dito antes, estou apenas descrevendo o processo por trás de um sistema ou algoritmo computacional, a escolha sobre a técnica será sempre sua.

 

Magia e Redes Sociais:

Quando eu iniciei os estudos sobre tarô, ocultismo e artes esotéricas, uma expressão usada pela Sallie Nichols me chamou muito a atenção, onde ela dizia que ao se aprofundar no estudo do tarô estamos nos libertando de ser apenas mais um no rebanho que age de forma automática em um ciclo inconsciente, sendo marionete das circunstâncias, apenas fazendo tudo como um soldado da colmeia, ao nos despertarmos estamos nos libertando para viver a nossa vida conscientemente. Pouco tempo depois, publiquei esse texto, sobre o porquê usamos as redes sociais.

E o que isso tem a ver com TecnoMagia?

Para um magista as redes sociais tem dois objetivos práticos:

  • O primeiro é conseguir identificar o movimento de manada da nossa sociedade e assim perceber e agir para se libertar dele, tomando decisões que vão de encontro a nossa própria vontade (que alimentam os nossos desejos) e não ao espírito do tempo atual, fazendo e querendo coisas que as pessoas acham que é certo, correto ou conveniente;
  • O segundo, é através de símbolos (linguagem) seja escrita, visual, sonora etc., influenciar ou controlar pessoas para os nossos próprios objetivos, sejam esses para o despertar de consciência de outros indivíduos, seja para conseguir influência, poder e fama (não vou entrar aqui em questões referentes a moralidade, ou nos perigos da loucura e do ego);
 

Todos nós sabemos os pilares de um bom magista:

“A pirâmide dos feiticeiros: Saber, Desejar, Ousar e Calar”.

Poder controlar outros indivíduos, no primeiro momento pode parecer imaginação ou conto de histórias infantis, mas as redes sociais são um exemplo desse poder de controle e comportamentos de manada onde pessoas fazem exatamente o que queiram que elas façam. Quando eu digo “queiram” de quem estou falando? Estou falando das Big Techs, da indústria da propaganda, dos governos e de um senso de “politicamente correto” que é conveniente quando precisa.

Pegamos por exemplo a conta no Instagram “insta_repeat” (https://www.instagram.com/insta_repeat/) que mostra como diferentes pessoas foram aos mesmos lugares e tiraram as mesmas fotos, indicando ou reforçando que elas não foram ali pela experiência do local por si só, ou por uma vontade inata e verdadeiras delas estarem ali, e sim que elas foram até ali para tirar a mesma foto que viram outras pessoas tirarem e elas querem ter o mesmo registro para fazerem parte desse grupo. Se não pudessem fotografar, será que essas mesmas pessoas iriam tomar as mesmas decisões e escolhas? Será que as vontades delas seriam as mesmas? Será que se importariam tanto com a aprovação de outros?

 

 

Quando Donald Trump foi banido das redes sociais como Facebook e Twitter, muitas pessoas aplaudiram, afinal, todos (ou o politicamente correto) queriam que o discurso dele fosse calado. Não vou entrar no mérito sobre o próprio Donald Trump, mas quando as Big Techs decidem quem pode ou não pode falar, uma hora isso se volta contra nós. E novamente não quero aqui defender a narrativa conservadora de direita ou a narrativa progressista de esquerda, principalmente por que como eu disse antes, a narrativa do politicamente correto é aplicada com conveniência, como o próprio banimento e silenciamento do Donald Trump foi conveniente para a esquerda, mas o conflito entre Israel e a Palestino alguns meses depois em Maio de 2021, mostrou essa arma apontada para o outro lado, onde Instagram e Facebook baniam ou limitavam o acesso a postagens de quem defendia os Palestinos na questão. E o detalhe que essa defesa, não foi um discurso antissemita ou coisa parecida, muitas vezes eram apenas apelos e desejos de que os Palestinos fossem respeitados, poupados ou pelo menos entendidos:

 

Para não parecer que estou usando apenas um reflexo da minha bolha sobre o caso acima, o The Intercep_ Brasil, publicou um artigo sobre como as redes sociais do Facebook (Facebook, Instagram e WhatsApp) tem censurado postagens de críticas a Israel ou postagens que defendam o lado Palestino:

 

Novamente ressalto que não estou entrando no mérito sobre a causa Israel/Palestina sobre quem é o certo ou errado. O ponto é que, quem define o que você pode ver ou não é uma empresa de outro país que tem os próprios interesses dela, isso parece correto para você? Ou você deveria escolher o que quer ou não ver, concordar ou discordar?

Um magista teoricamente deveria ser livre de tal influência, mas como eu mesmo escrevi nesse texto, somos tão bombardeados por esses estímulos e manipulações que até mesmo o nosso subconsciente absorve tais ideais e comportamentos como sendo internos, quando na verdade estamos sobre a decisões de outros com interesses totalmente diferentes dos que realmente queremos, ou pelo menos, que achamos que estamos escolhendo.

Costumamos dizer e acreditar em “leis do universo”, e geralmente não podermos ter poder sobre elas, mas no ambiente digital, estamos mais sujeitos a “leis de algoritmos” que apesar de não parecer temos sim controle de tais algoritmos se não em controlá-los, em pelo menos não sermos controlados por eles:

  • A última coisa que você comprou, você realmente queria aquilo?
  • A últimas horas que você passou no celular foram com coisas que você se interessou e buscou, ou foi no automático no que lhe foi oferecido?
  • As últimas notícias ou artigos que moldaram ou que você manifestou sua opinião, você realmente se engajou no assunto, ou apenas lhe foi oferecido?
  • Pense nas últimas fotos que tirou pela câmera do seu celular, você as tirou por que realmente queria registrar algo para você, ou tirou pensando em mostrar para alguém em algum feed, esperando algum feedback de aprovação como resposta?
  • Como são construídos seus relacionamentos? Todos ou a maioria deles amparados apenas por likes, comentários e mensagens? O que de real existe nessa relação?
 

Você pensar depois de tudo isso: “ah mais que exagero, os algoritmos não são tão ruins assim”. Abaixo algumas abordagens que os algoritmos de Facebook, Instagram e TikTok usam para controlar ou influenciar suas escolhas e comportamentos:

  • O Facebook se tornou a principal fonte de notícias nos Estados Unidos e também no Brasil: Isso significa que a maioria das pessoas usa o que aparece no Facebook como principal meio de se obter informações;
  • O Facebook foi criado para fazer com que você permaneça no site por mais tempo: Não importa o que você esteja fazendo, o Facebook só quer que você fique mais tempo dentro da plataforma, mesmo que seja se chateando, se você continuar usando eles estão cumprindo o propósito;
  • O Facebook fornece notícias com base no interesse, não na escolha: Ou seja, o Facebook se preocupa em te manter engajado, mesmo que seja em um tema que te irrite e te gere indignação, se você se engaja mesmo que para reclamar, eles estão cumprindo o propósito;

O que esperar do futuro?

Tudo indica que em curto período de tempo, talvez 10 anos ou menos, esse controle do ambiente cibernético será ainda mais intenso e censurado. A internet hoje parece ser um ambiente livre e aberto, porém para muitos (aqueles que detém realmente o poder), a internet é como uma sala cheia de crianças correndo perto de facas e inflamáveis, e em algum momento haverá consenso de que isso precisara ser controlado, já que um ambiente por mais que rico de informação e meios de contato, você pode buscar como melhorar de vida como também pode aprender a construir um coquetel Molotov, e o lado supostamente “moralista” ou pelo “bem da sociedade” das BigTechs e governos vão inevitavelmente interferir nisso

O que podemos fazer então? Banir as redes sociais e Big Techs e virarmos Ermitões da tecnologia? Claro que não, mas sim, que usaremos essas ferramentas a nossa favor, como instrumentos mágicos para nossos interesses e ambições. Tendo consciência sobre como essas ferramentas funcionam, podemos utiliza-las da melhor maneira possível para a nossa prática mágica, seja de conhecimento, seja de poder, seja de cura, seja de transmutação, ou de qualquer outro tipo, inclusive, a magia de comunicação.

 

“Avance um pouco na história para a revolução agrícola, onde você tem o controle do que nasce da terra, não precisa mais buscar pelas florestas. Ao seu redor haverá ervas, chás, instrumentos de colheita, vassouras e caldeirões. É isso que o magista dessa época tinha em mãos. Nasce a feitiçaria. Mais alguns séculos e o mundo está rodeado de capas, espadas, taças e itens religiosos. É natural que ele use este itens para explorar sua via oculta, nasce a Alta Magia. Corra para a renascença com seus laboratórios, ateliês e o início das experimentações empíricas. Nasce a Alquimia”.

Completo a citação cima:

“No século XXI, podemos obter informações do passado e do presente em apenas alguns segundos, podemos prever e planejar o futuro e comportamentos através dos algoritmos, podemos nos comunicar com alguém do outro lado do planeta: a Tecnomagia nada mais é do que a Magia no ambiente cibernético”.

 

Essas são apenas propostas de reflexão, para te propor algum controle e consciência sobre suas escolhas digitais. Não existe resposta certa ou errada, afinal, não será um texto na internet que irá dizer o quanto de controle você tem sobre suas escolhas ou não.


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